A educação passou por várias mudanças nos últimos anos, principalmente após a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que defendem um ensino mais contextualizado, significativo e que ajude o aluno a não só passar no vestibular, mas em seu desenvolvimento como cidadão. Quando os PCN foram publicados, em 1997, vimos a corrida das escolas para mostrar que acreditavam e iriam se adequar aos novos parâmetros.
Mas o que eu via, realmente, era uma maquiagem. As escolas tinham um lindo discurso de abominação do método tradicional, mas continuavam fazendo de tudo para que o aluno ficasse mais e mais bitolado, tendo que decorar definições e fórmulas, se tornando expert em solucionar exercícios e provas de múltipla escolha para passarem no vestibular. Achava que isso só acontecia nas escolas particulares, nas quais o índice de aprovação no vestibular é o que importa para alavancar o número de matrículas. Mesmo sabendo de tudo isso, imaginava que algo de bom esses alunos deveriam estar desenvolvendo.
Quando passei a lecionar para o Ensino Superior minha surpresa foi imensa. Achava que meus alunos estariam prontos para vôos mais altos, que teriam um bom poder de abstração (muito importante para se aprender Química) e que, estando numa universidade, já seriam capazes de desenvolver textos nos quais suas idéias aparecessem de forma mais clara. Não era bem assim. Grande parte dos meus alunos tinha uma dificuldade imensa de ler e interpretar textos, muitas vezes bastante simples. Escrever, então, era o “bicho-papão”! Não era raro me pedirem exercícios e provas de múltipla escolha. Ora, mas que alunos mais “folgados”! Não queriam ter o trabalho de raciocinar e colocar no papel o que sabiam, de forma clara e que todos lessem e entendessem!
Depois de algum tempo percebi que os alunos não eram “folgados” sem motivo: desde o dia em que entraram na escola pouco foram levados ou incentivados à leitura e à escrita! Da Alfabetização até a última série do Ensino Médio o aluno passa por algumas fases que, para mim, não fazem muito sentido.
A criança entra na escola e começa a aprender as letras, formar sílabas, palavras e frases. Aprende a juntar tudo e dar sentido gráfico àquilo que está em sua cabeça. Aprende a pegar um livro, ler e entender o que aquele amontoado de letras quer dizer: interpreta o texto ali escrito. Que bonitinho!
Vai chegando a adolescência e aquele aluno começa a aprender conceitos um pouco mais elaborados, fazer abstrações. Esse seria o momento de explorar ao máximo as capacidades de aprendizagem do aluno, mas aí a coisa começa a ficar confusa na minha cabeça: a criatividade é castrada e dá lugar ao treinamento! Logo no meio do Ensino Fundamental maior o aluno começa a ser preparado para o vestibular. Isso significa que não precisará mais ler um livro. Basta ler o resumo que já está na internet ou nos módulos (odeio módulos!) e o aluno será capaz de responder praticamente qualquer pergunta relacionada à história contada naquele livro. Significa também que não precisará mais elaborar mentalmente o que sabe para comunicar ao professor e este poder fazer uma avaliação mais completa do que foi ensinado e do que foi aprendido. Somente é necessário saber alguns conteúdos-chave, alguns macetes e aplicá-los na resolução das questões de múltipla escolha que os professores lhe passam. Existem várias técnicas que se pode utilizar para resolver esse tipo de questão sem ter estudado a fundo o assunto. Nos cursinhos é muito comum ensinarem essas técnicas.
Aí o aluno chega ao Ensino Superior e nós, professores, nos perguntamos: como ele chegou até ali? Por não termos consciência da trajetória sem sentido pela qual este aluno passou achamos que tem algo muito errado com o Ensino Médio, com o Vestibular, com os conteúdos que seus antigos professores trabalharam. Mas não é nada disso, ou não é somente isso: ao passo que ia avançando nas séries do Ensino Básico, o aluno ia sendo cada vez menos exigido cognitivamente. O que aprendeu nessa fase não serve de quase nada agora, pois para se tornar um profissional em qualquer área não vai poder ler os resumos dos livros e nem marcar X na opção mais provável!
Sei que muitos poderão dizer que estou “crucificando” a escola e tirando a culpa de alunos e pais. Não estou não. Isso aí é outro assunto a ser discutido em outra ocasião. Mas acho que, pelo menos, a escola deveria lutar para que seus alunos entendessem o sentido da escolarização, da educação e das escolhas que farão para seu futuro. Não admito que um aluno chegue ao Ensino Superior achando que usando de macetes e regrinhas vão se transformar em profissionais e não entendam o que significa ser um profissional, as responsabilidades que terá a partir do momento em que receber o tão sonhado “canudo”.
A educação precisa repensar seus objetivos e seus métodos. Sem a clara definição do que se deseja não há como evoluir.
Alcione T. Ribeiro - editora do Sarapatel de Coruja
Coletânea e arquivamento de notícias divulgadas na imprensa sobre educação,escolas,professores,concursos, cursos,magistério e educação de forma geral.
01/11/2008
Um comentário:
- Não temos qualquer vínculo com nenhuma instituição pública ou privada. Este é um espaço pessoal e informal para troca de informações entre pessoas interessadas no setor de Educação.
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Hora extra para professores
Professores que querem fazer hora extra podem se informar aqui. Na rede pública de ensino, para cada estado e cada município há uma nomenc...
OLá.Muito bom este texto, a reflexão sobre a educação e sobre a formação de professores deveria, em tese, levar à formação de educadores. Entendo que muitas vezes o discurso dos profissionais da educação é de por a culpa na sociedade (dos pais), porém acredito que falta uma autocritica, se algo está errado,então seremos nós a mudança.
ResponderExcluirObrigado: Vamos trocar mais figurinhas, também mantenho um blog:www.educchines.blogspot.com
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