13/04/2012

Porque o jovem não deve ler - autor: Ulisses Tavares.

Será que uma sociedade sem leitura tem a mínima chance de melhorar, de mudar sua história, de causar transformações? Qual a sua opinião?

O professor que está em sala de aula sabe a dificuldade que a maioria dos jovens encontram ao se deparar com um texto, e nem precisa ser "o texto", basta um pequeno enunciado de qualquer questão para que eles fiquem completamente "perdidos".

Mas não são só os alunos. não mesmo ... Não é difícil encontrar professores que também não cultivam o gosto pela leitura.

Aqui mesmo percebe-se isso. Pelas dúvidas que vemos aqui, podemos constatar claramente que os editais dos concursos são "leitura enfadonha" para grande parte dos frequentadores do espaço.Isso não é uma crítica. É simplesmente uma constatação.

Podemos presumir que a falta de leitura, ou de prazer em ler, é uma prerrogativa da sociedade comtemporânea. Claro que há exceções, mas pode-se com certeza absoluta dizer que os que gostam, têm prazer com a leitura, são realmente "EXCEÇÕES".

Mas vamos ao texto. Aos que tiverem um tantinho de paciência para ler, indico a leitura  abaixo.


Por Ulisses Tavares (*) em 10/04/2012 na edição 689 do Observatório da Imprensa.

Calma, prezado leitor, nem você leu errado, nem eu pirei de vez. Este artigo pretende isso mesmo: dar novos motivos para que os moços e moças de nosso Brasil continuem lendo apenas o suficiente para não bombar na escola.
Continuem, jovens, vendo a leitura como algo completamente estapafúrdio, irrelevante, anacrônico, e permaneçam habitando o universo ágrafo dos hedonistas incensados nos reality shows.
(Epa, acho que exagerei. Afinal, quem não lê, muito dificilmente vai conseguir compreender essa última frase. Desculpem aí, manos: eu quis dizer que os carinhas, hoje, precisam de dicionário pra entender gibi da Mônica, na onda dos sarados e popozudas que veem na telinha, e que vou dar uma força pra essa parada aí, porra.)
Explico mais ainda: é que, aproveitando o gancho do Salão do Livro InfantoJuvenil, no Parque do Ibirapuera, Sampa, pensei em escrever sobre a importância da leitura. Algo leve mas suficiente para despertar em meia dúzia de jovens o gosto pela leitura (de quê? De tudo! De jornais a livros de filosofia; de bulas de remédio a conselhos religiosos; de revistas a tratados de física quântica; de autores clássicos a paulos coelhos).
Daí aconteceram três coisas que me fizeram mudar de rumo e de ideia.
Primeiro, eu li que fizeram, alguns meses atrás, um teste de leitura com estudantes do ensino fundamental de uma dezena de países. Era para avaliar se eles entendiam de verdade o que estavam lendo. Adivinhem quem tirou o último lugar, até mesmo atrás de paizinhos miseráveis e perdidos no mapa- múndi? Acertou, bródi: o nosso Brasil.
Saída única
Logo depois, li uma notícia boa, que, na verdade, é ruim: o (des)governo de São Paulo anuncia maior número de crianças na escola, mas adotou a política da não reprovação. Traduzindo: neguinho passa de ano, sim, mas continua tecnicamente analfabeto. Porque ler sem raciocinar é como preencher um cheque sem saber quanto se tem no banco.
E, por último, li, em pesquisa publicada recentemente nos jornais, que, para 56% dos brasileiros entre 18 e 25 anos, comprar mais significa mais felicidade, pouco se importando com problemas ambientais e sociais do consumo desenfreado. Ou seja, o jovem brasileirinho gosta de comprar muitas latinhas de cerveja, mas toma todas e joga todas nas ruas ou nas estradas, sem remorso.
Viram como ler atrapalha? A gente fica sabendo de fatos que, se não soubesse, teria mais tempo para curtir o próprio umbigo numa boa, sem ficar indignado e preocupado com a situação atual de boa parte de nossa juventude.
E também faz o tico e o teco (nossos dois neurônios que ainda funcionam, já que, se dividirmos o quociente de inteligência nacional pelo número de habitantes, não deve sobrar mais que isso per capita) malharem e suarem, em vez de ficarmos admirando o crescimento do bumbum e do muque no espelho das academias de musculação.
Por isso que, num momento de desalento, decidi que de agora em diante, como escritor e professor, nunca mais vou recomendar a ninguém que leia mais, que abra livros para abrir a cabeça.
A realidade é brutal e desmentiria em seguida qualquer motivo que eu desse para um jovem tupiniquim trocar a alienação pela leitura.
Reconheço: a maioria está certa em não ler. E tem, no mínimo, cinco razões poderosas, maiores e melhores que meus frágeis argumentos ao contrário:
1. Se ler, vai querer participar como cidadão dos destinos do país. Não vale a pena o esforço. Como disse Lula (que não teve muita escola, mas sempre leu pra caramba), a juventude não gosta de política, mas os políticos adoram. Por isso que eles mandam e desmandam há séculos;
2. Se ler, vai saber que estão mentindo e matando montes de jovens todos os dias em todos os lugares do Brasil, impunemente; principalmente, porque esses jovens não percebem nem têm como saber (a não ser lendo) a tremenda cilada que é acreditar que bacana é mentir e matar também;
3. Se ler, vai acordar um dia e se perguntar que diabo é isso que anda acontecendo neste lugar, onde só ladrões, corruptos, prostitutas e ignorantes aparecem na mídia;
4. Se ler, vai ficar mais humano e, horror dos horrores, é até capaz de sentir vontade de se engajar num trabalho comunitário, voluntário e parar de ser egoísta;
5. Se ler, vai comparar opiniões, acontecimentos, impressões e emoções e acabar descobrindo que sua vida andava meio torta, meio gado feliz.
O espaço está acabando e me deu vontade de lembrar que ninguém – nem mesmo alguém que não vê utilidade na leitura – pode achar que há um belo futuro aguardando uma juventude que vai de revólver pra escola e, lá, absorve não conhecimentos mas um baseado ou uma carreirinha maneira. Sim, é outra pesquisa que li, esta dando conta de que sete entre dez estudantes brasileiros andam armados, três entre dez se drogam na escola, sete entre dez bebem regularmente.
Mas paro por aqui, já que, apesar desses tristes tempos verdes e amarelos (as cores do vômito, papito), lembro também de tantos poetas, jornalistas e escritores que, ao longo de minha vida de leitor apaixonado, me deram toques de esperança, força e fé na mudança.
De um especialmente – o poeta Thiago de Melo –, com seu verso comovido e repleto de coragem: “Faz escuro, mas eu canto!”
Talvez meu pequeno cantar sirva de guia do homem (e mulher) de amanhã. E que, lendo mais, ele/ela evite ter como única alternativa para mudar de vida dar a bunda (e a alma) ou engolir baratas (e a dignidade) diante das câmeras.
*[Ulisses Tavares é poeta, jornalista, publicitário, roteirista de televisão e professor]
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed689_por_que_o_jovem_nao_deve_ler - Reproduzido de O TREM Itabirano nº 79, abril de 2012; intertítulo do OI

Um comentário:

  1. Pior que as pessoas que mais deveriam ler isso são as que não gostam de ler.
    Acho melhor gravar uma musiquinha que seja possível de rebolar e colocar o testo como letra... Se fizer sucesso talvez quem não lê pelo menos ouça.

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